sábado, 28 de junho de 2008

ABORDAGEM SISTÊMICA

A teoria sistêmica, para Betti, é como um instrumento conceitual e um modo de pensar a quetão do currículo da Educação Física. E a Educação Física é como um sistema HIERÁRQUICO ABERTO, onde os níves superiores exercvem controle sobre os sistemas inferiores. Betti defende tais princípios:
- Princípios da não -exclusão; com objetivo de interação.
- Princípio da diversidade, variar a atividade
Na abordagem sistêmica a preocupação é garantir a especificidade, já que a Educação Física ainda está ligada a corpo\movimento. Segundo Betti o alcance da especificidade se dá com a "interação e instrução do aluno de 1º e 2º grau no mundo da cultura física, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais de atividade física (jogo, esporte dança, ginástica).


GRUPO: LUCIANA MELO, TIAGO ARRAIS, RENATO FREIRE E GUILHERME UMEMURA




ABORDAGEM - OS MOVIMENTOS RITMADOS NO FUTEBOL

(ELENOR KUNZ)

A presente abordagem retrata o assunto do ritmo inserido na aprendizagem do futebol pelo fato desta habilidade estar intimamente relacionada com a sincronização do jogo do esporte a ser trabalhado. Esta sincronia envolve desde os fundamentos básicos do futebol até o momento em que este será jogado.

O autor destaca que, por influência de determinados elementos (como a música, e principalmente o samba) no futebol brasileiro, muitos jogadores possuem habilidades rítmicas mais acentuadas que outros jogadores. Fato este comprovado pelas numerosas conquistas. E diz também que muitos times deixam de vencer pelo fato da perda da sincronia não só de um integrante da equipe, mas de todos.

O ritmo sentindo interiormente pela pessoa, a torna mais capaz de realizar movimento e habilidades com maior sincronia, ou facilidade, deixando então de fazer somente gestos unicamente técnicos.

Conclui que esta abordagem pode ser realizada por não só o futebol, mas vários outros tipos de esporte ou atividades. Podendo ainda servir como base para outros tipos de métodos de ensino do futebol.


PLANO DE AULA

Local:

  • Quadra;

Material:

  • Bolas diversas;
  • Cones;
  • Coletes;
  • Um aparelho de som;
  • Apitos;
  • Um cronômetro.

1ª ATIVIDADE:

Aquecimento

Ritmo: musica.

Primeiro propor aos alunos que comecem andando, depois que realizar exercícios de aquecimento durante uma corrida. Após alongar. (10 min.)

2ª ATIVIDADE: (individual)

Embaixadinhas ( com os pés ou joelhos) - Ritmo do apito. (2 min.)

Cabeceio - Ritmo do apito. (2 min.)

Domínio da bola – ritmo da musica. (1 min.)

3ª ATIVIDADE: (em duplas)

Bater a bola contra a parede - ritmo das palmas do colega. (2 min.)

Trocar passes curtos com o colega – ritmo palmas do professor. (2 min.)

Domínio e passe da bola – ritmo do apito (2 min.)

4ª ATIVIDADE : (em grupos)

Formar um circulo e brincar de “bobinho”, sendo obrigado a passar a bola, ao ritmo do apito. (2 min.)

Em circulo (4) e ao ritmo do apito tentar manter a bola por mais tempo no ar, competindo entre os grupos. (2 min.) + (2 min.)

5ª ATIVIDADE:

Coletivo

Todos participam de um jogo coletivo nos primeiros 2 min. silencio total, depois jogo livre com musica de fundo. (5 min.)

Cecília Melo e Delaine Unes.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Esporte na Escola - TV ESCOLA



O vídeo mostra e exalta a importância do esporte. Esse além de deixar o corpo em forma, diminui as neuroses, alivia as tensões, melhora a sociabilidade, o equilíbrio, a saúde, enfim, “o esporte torna a vida muito mais legal pra quem o pratica”. E devemos destacar que esporte não é apenas o futebol, o vôlei, o handball, mas também o correr, a caminhada, as brincadeiras e a dança.
Na segunda parte do vídeo há um convidado especial, Marco frota. Ao perguntar para ele da importância da atividade física ele diz que o esporte está diretamente ligado com o prazer e a alegria de qualquer criança e que são fundamentais para o desenvolvimento delas. Fala também que o esporte trás um equilíbrio emocional importantíssimo para o entendimento de qualquer matéria e a escola deve investir nessa prática.
Em um terceiro momento o vídeo mostra uma brincadeira, desde a sua confecção até o brincar. Nessas brincadeiras o aluno estará trabalhando com seu corpo, desenvolvendo novas habilidades; com sua mente, criando e solucionando problemas; não esquecendo da parte social que essas brincadeiras podem trazer.
Então é isso que o vídeo quer mostrar, a importância do esporte, não somente como competição, mas suas diversas formas. Principalmente para desenvolver em todos os aspectos as crianças e todos que o pratica.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Relatório do filme MACHUCA


O filme se passa em Santiago, no Chile, e gira em torno da história principalmente de duas crianças, Gonzalo Infante e Pedro Machuca. Gonzalo é um garoto rico, que vive numa área nobre e estuda em um colégio particular. Neste colégio existe um padre, McEnroe, que é americano e impõe uma educação muito rígida aos alunos. Este padre, com suas idéias e ações de caridade, ingressa neste colégio alunos vindos da periferia da cidade, de condições sociais muito precárias, com uma tentativa de fazer com que ambas as crianças aprendam a conviver com diferenças e respeito.

Pedro Machuca é um dos alunos que passa a freqüentar o colégio, e pertence então à turma onde Gonzalo Infante estuda. Os dois se conhecem e então começam a vivenciar uma amizade muito estranha no começo, mas que foi crescendo bastante, onde um começou a conhecer o mundo do outro, sendo que Gonzalo começou a vender bandeirinhas nos conflitos políticos, junto com Machuca, seu tio e uma prima. Os garotos trabalhavam muito, Machuca porque suas condições de vida eram estas e Gonzalo por passar a maior parte do tempo longe de casa, pois sua mãe era adultera e seu pai um socialista, que não davam muita importância a ele. Sua mãe mantinha relações com um homem mais velho, que tentava comprar Gonzalo com presentes. Então ele viu em Machuca uma atenção e amizade e faziam tudo juntos.

O Chile estava dividido entre partidários e socialistas, os conflitos eram cada vez maiores. Dentro da escola, os alunos ricos e pobres brigavam, entre si, e Gonzalo estava sempre para o lado dos mais pobres.

No desenrolar da história, as crianças, tanto Machuca, Gonzalo e a prima de Machuca (Manuela), vivenciavam um “triangulo amoroso”, fazendo brincadeiras e descobrindo o namoro regado a leite condensado. Enquanto isso os diferentes mundos eram descobertos pelos garotos, que moravam numa mesma cidade, não muito longe, mas que um não conhecia nada sobre a vida do outro.

Ocorreu o desencadeamento do golpe militar no país e as crianças horrorizavam com a violência, principalmente contra os pobres socialistas, nos bairros de favelas e até selecionando alunos dentro da escola, que foi tomada pelos militares. Gonzalo, que tinha sido um desonestamente julgado por Machuca e Manuela, vai desesperado até a casa deles para encontrá-los e depara-se com milhares de militares acabando com as pessoas sem sentido, só por serem socialistas. O conflito acaba na morte de Manuela, o que deixa os garotos atordoados.

O colégio torna-se totalmente militar, o padre é expulso e o país fica tomado pelos militares, em regime quase ditatorial, enquanto isso a mãe de Gonzalo vive ao lado do então amante e seu pai que era socialista, como a maioria deles estava exilado. As condições no país tornaram-se muito diferentes e aqueles que eram socialistas perderam total direito de liberdade, ou estavam mortos, exilados, ou sem direito de expressão.

domingo, 8 de junho de 2008

Futebol de Rua


Quem é que nunca se diveritu com qualquer coisa que seja, brincanco nas ruas e se divertindo muito!! Hoje em dia essas brincadeiras não são tão comuns mais de se ver... O que é uma pena, pois é uma cultura que todas as pessoas deveriam ter, porque antes de qualquer coisa, é DIVERTIDO e desenvolve nas crianças capacidades que o video game, a tv o o computador, nunca irão substituir!


Tradução livre para o português do sudeste:
goleiras = traves
golo= gol

"Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora.Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:
DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomendando-se nestes casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.
DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor e até o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para agüentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio golo.
DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.
DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, a esquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.
DO JUIZ – Não tem juiz.
DAS INTERRUPÇÕES – No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:
a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la. Mande o seu irmão menor.
b) Se a bola entrar por uma janela.
Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento ou casa for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância.
c) Quando passarem pela calçada:
1) Pessoas idosas ou com defeitos físicos.
2) Senhoras grávidas ou com crianças de colo.
3) Aquele mulherão do 701 que nunca usa sutiã.
Se o jogo estiver empatado em 20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no caminho do time atacante, azar. Ninguém mandou invadir o campo.
d) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é golo.
DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições: a)No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição. b) Em caso de atropelamento.
DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.
DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina, é córner.
DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.
DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa."

Luis Fernando Veríssimo

sexta-feira, 6 de junho de 2008

As chuteiras sem pátria


Quando chega um fax com barulhinho de cornetas celestiais, eu já sei: é carta do Nelson Rodrigues. Não deu outra. Nelson me pedia para publicar um texto sobre a Copa, já que está sem contato nas redações: “Eu sou do tempo do Pompeu de Souza, do Prudente de Morais Neto... Não conheço esses meninos da redação...” . Muito bem, aqui vai seu comentário sobre o sábado da desgraça:
“Amigos, a derrota é um grande momento de verdade. Só diante da vergonha é que entendemos nossa miséria. Num primeiro momento, queremos encontrar uma explicação para o fracasso, mas fracasso não se improvisa — é uma obra calculada, caprichada durante meses, anos até. Não adianta berrar no botequim que o Parreira é uma besta ou que o Ronaldo é um gordo perna-de-pau. Não. Nosso fracasso começou antes, porque esta seleção não foi a pátria de chuteiras, foram as chuteiras sem pátria.
Para nossos jogadores ricos e famosos, o Brasil é a vaga lembrança da infância pobre, humilhada. O país virou um passado para os plásticos negões falando alemão, francês, inglês, todos de brinco e com louras vertiginosas. Não são maus meninos, ingratos, não, mas neles está ausente a fome nacional, a ânsia dos vira-latas querendo a salvação. O povo todo estava de chuteiras, para esquecer os mensalões e os crimes, mas nossos craques não perderam quase nada com a derrota, tiveram apenas um mau momento entre milhões de dólares e chuteiras douradas pela Nike.
Isso me faz lembrar o grande Neném Prancha do Botafogo: ‘Temos de ir na bola como num prato de comida!...’ Que frase profunda, esquecida hoje... Nosso time come bem e nem os jogadores, nem os técnicos, nem os roupeiros e massagistas viram o óbvio, ali, uivando, ululando nos vestiários: o time estava sem conjunto, os jogadores estavam presos a um esquema tático que contrariava suas vocações. Só o povo berrava: ‘Ronaldo está gordo, Ronaldinho tem de atuar mais livre, os jovens têm de jogar mais!’. E quanto mais o óbvio se repetia, mais o Parreira se obstinava em sua lívida teimosia... Por quê? Porque o técnico é sempre contra a opinião geral. Em vez de orientar as vocações dos rapazes, ensinando-lhes a liberdade, a coragem e o improviso, o Parreira achou que todos têm de caber em sua estratégia. O pior cego é o surdo. E jogador brasileiro não gosta de lei nem de planejamentos, quer inventar sozinho. O técnico devia ser um reles treinador, quase um roupeiro, humilde diante dos craques. Mas o Parreira parecia um ‘Mussolini’ de capacete e penacho. Teve vários sinais de tirania: só dava a escalação no vestiário, com os jogadores desamparados, na insônia da dúvida da convocação, não teve coragem de barrar as estrelas, como se isso fosse uma afronta ao passado e às multinacionais. Ronaldo fez gols, tudo bem, mas foi uma âncora pesada desde o início, em torno do qual os problemas giraram. Parreira ficou com medo dos jovens, e eu via em seus rostos o desespero do banco. Robinho arfava de rancor e só entrava quando era tarde demais. Robinho foi o único que chorou no final, ainda menino e puro. Quem teve a mãe seqüestrada sabe o que é tragédia. E, para escândalo do país, Robinho ficou de castigo. Ao final de tudo, Parreira disse a frase suicida: ‘Não estávamos preparados para perder!...’ Isso é a morte súbita, isso é a guilhotina. Sem medo, ninguém ganha. Só o pavor ancestral cria uma tropa de javalis profissionais para a revanche, só o pânico nos faz rezar e vencer, só Deus explica as vitórias esmagadoras, pois nenhum time vence sem a medalhinha no pescoço e sem ave-marias. Mas Parreira ignorou a divindade e acreditou em si mesmo, com a torva vaidade de uma prima-dona gagá, com pelancas e varizes.
Isso é o óbvio, mas foi ignorado. E quando o obvio é desprezado, ficamos expostos ao sobrenatural, ao mistério do destino. Por exemplo, por que começamos o jogo como um corpo de bailarinos eufóricos e, 15 minutos depois, ficamos paralíticos como sapos diante de cascavéis, com o Zidane dando chapéus até no Ronaldo? Será que diante da Marselha sofremos um pavor reverencial? Em 98, Ronaldo caiu em convulsões de cachorro atropelado no vestiário. E agora? Creio que no sábado não estávamos com medo da França, não, o que tivemos foi medo de nós mesmos, voltou-nos o complexo de vira-latas, inibidos como vassalos diante do Luís XIV, de sapato alto e peruca empoada. Foi assim em 98 e agora. A França é muito chique para filhos do Capão Redondo e de Bento Ribeiro.
Mas todos sabem que quem ganha e perde as partidas é a alma. E a nossa estava dividida entre o match e a linha de passe, entre o show e a vitória. Houve o episódio da meia do Roberto Carlos, que, um segundo antes do gol da França, estava ajeitando a liga como uma madame Pompadour. Pelé notou o descuido frívolo e trágico, pois guerreiro furioso não conserta a roupa na batalha. Esse pequeno gesto revelou bastidores de equívocos fatais, teorias e teimosias.
Outra coisa que nos matou foi a torcida. Nunca houve uma torcida tão desesperada por uns minutos de paraíso, de brilho. Foi diferente de 1950. Lá, sonhávamos com um futuro para o país. Agora, tentávamos limpar nosso presente. Explico: há um ano, somos uma nação de humilhados e ofendidos, debaixo da chuva de mentiras políticas, violência e crimes sem punição. Descobrimos que o país é dominado por ladrões de galinha, por batedores de carteira e pelos traficantes. Por isso, a população queria que o scratch fizesse tudo que o Lula não fez. Mas era peso demais para os rapazes. A dez mil quilômetros, os jogadores ouviam os gemidos ansiosos das multidões de verde e amarelo, como uma asma patriótica. Não esperávamos uma vitória, mas uma salvação. Só a taça aplacaria nossa impotência diante da zona brasileira, a seleção era nossa única chance de felicidade. Queríamos a taça para berrar ao mundo e a nós mesmos: ‘Viram? Nós brasileiros somos maravilhosos!’
Mas não deu. É só.”


"Arnaldo Jabor"

NOSSOS DIAS MELHORES NUNCA VIRÃO?

Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho "presente" é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido.
As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo.
Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? A este mundo ridículo que nos oferecem, para morrermos na busca da ilusão narcisista de que vivemos para gozar sem parar? Mas gozar como? Nossa vida é uma ejaculação precoce. Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um "enorme presente", na expressão de Norman Mailer. E este "enorme presente" é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que "não pára de não chegar".
Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.
Há alguns anos, eu vi um documentário chamado Tigrero, do cineasta finlandês Mika Kaurismaki e do Jim Jarmusch sobre um filme que o Samuel Fuller ia fazer no Brasil, em 1951. Ele veio, na época, e filmou uma aldeia de índios no interior do Mato Grosso. A produção não rolou e, em 92, Samuel Fuller, já com 83 anos, voltou à aldeia e exibiu para os índios o material colorido de 50 anos atrás. E também registrou, hoje, os índios vendo seu passado na tela. Eles nunca tinham visto um filme e o resultado é das coisas mais lindas e assustadoras que já vi.
Eu vi os índios descobrindo o tempo. Eles se viam crianças, viam seus mortos, ainda vivos e dançando. Seus rostos viam um milagre. A partir desse momento, eles passaram a ter passado e futuro. Foram incluídos num decorrer, num "devir" que não havia. Hoje, esses índios estão em trânsito entre algo que foram e algo que nunca serão. O tempo foi uma doença que passamos para eles, como a gripe. E pior: as imagens de 50 anos é que pareciam mostrar o "presente" verdadeiro deles. Eram mais naturais, mais selvagens, mais puros naquela época. Agora, de calção e sandália, pareciam estar numa espécie de "passado" daquele presente. Algo decaiu, piorou, algo involuiu neles.
Lembrando disso, outro dia, fui atrás de velhos filmes de 8mm que meu pai rodou há 50 anos também. Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que o Brasil perdeu... Em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre família de classe média, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária, constrangida; e eu ali, menino comprido feito um bambu no vento, já denotando a insegurança que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de um passado bom que decaiu, como entre os índios. Era um presente atrasado, aquém de si mesmo. A mesma impressão tive ao ver o filme famoso de Orson Welles, It's All True, em que ele mostra o carnaval carioca de 1942 - únicas imagens em cores do País nessa década. Pois bem, dava para ver, nos corpinhos dançantes do carnaval sem som, uma medíocre animação carioca, com pobres baianinhas em tímidos meneios, galãs fraquinhos imitando Clark Gable, uma falta de saúde no ar, uma fragilidade indefesa e ignorante daquele povinho iludido pelos burocratas da capital. Dava para ver ali que, como no filme de minha família, estavam aquém do presente deles, que já faltava muito naquele passado.
Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O "hoje" deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um grande trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os americanos, o passado estava de acordo com sua época. Em 42, éramos carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no presente. Nos filmes brasileiros antigos, parece que todos morreram sem conhecer seus melhores dias.
E nós, hoje, nesta infernal transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca? Quando o Brasil vai crescer? Quando cairão afinal os "juros" da vida? Chego a ter inveja das multidões pobres do Islã: aboliram o tempo e vivem na eternidade de seu atraso. Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega que nos assola na moda, no amor, no sexo, nessa fome de aparecer para existir. Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é "não ter futuro"; é nunca estar no presente.


"Arnaldo Jabor"